O Administrador como Político *por Stephen Kanitz
A maioria dos nossos intelectuais ainda acredita que o mundo é controlado
por "empresários", pelos "donos do poder", por uma "classe dominante"
preocupada exclusivamente em maximizar lucros e com seus próprios
interesses. É um insulto à inteligência de seus leitores, alunos e à de
todos os administradores formados deste país em particular desconhecer a
revolução bem-sucedida que se concretizou no século XX no mundo inteiro.
Fruto dessa revolução, conseguimos a derrota definitiva dos empresários, o
grande sonho de Karl Marx. Essa revolução foi exaustivamente relatada nos
livros do jornalista e administrador austríaco Peter Drucker, que
infelizmente a maioria dos intelectuais da América Latina jamais se
interessou em ler. Uma revolução que infelizmente ainda está em processo no
Brasil, e ainda pode ser sabotada pelos mesmos intelectuais.
Ao longo do século XX, os empresários do mundo inteiro foram sendo
lentamente substituídos por um grupo de revolucionários que, sem
derramamento de sangue, tomaram o poder das empresas. Refiro-me a um novo
protagonista da história, os administradores profissionais, os gestores
sociais, pessoas especialmente treinadas para conciliar os interesses
conflitantes entre clientes, fornecedores, acionistas, trabalhadores,
ecologistas, ONGs e governo. O acionista majoritário, o famoso "empresário",
deixou de ser o todo-poderoso e de administrar sua empresa em causa própria,
à custa dos demais.
O novo tipo de empresa é o de "capital aberto" com milhares de acionistas
que oferecem "capital social" para a sociedade. Essas empresas, listadas em
bolsa, não têm dono, no sentido de que não são administradas pelos "donos",
mas por administradores profissionais. Esses revolucionários humanizaram as
empresas, tornando-as socialmente responsáveis, valorizaram fornecedores,
clientes e trabalhadores.
O objetivo da empresa passou a ser servir à sociedade em geral, e não servir
aos interesses de uma única família ou do Estado, a todo custo.
Administradores não são de direita nem de esquerda, não defendem
exclusivamente capitalistas ou somente os trabalhadores em detrimento dos
demais. A preocupação é sempre defender o todo. Ao contrário do que
acreditam até hoje os economistas e os intelectuais, administradores não
maximizam lucros. Eles habilmente deixam os acionistas "satisfeitos", com a
famosa fórmula de "dividendos mínimos", sistemáticos e crescentes, que
aprendemos no primeiro ano da faculdade de administração.
Clientes, governo, trabalhadores, acionistas e fornecedores têm interesses
conflitantes, que precisam ser adequadamente resolvidos por um mediador, que
é a função política e moderna do administrador. Quando um desses grupos
domina os demais, cessam a cooperação e o crescimento da empresa. Foi o que
ocorreu com as estatais dominadas pelo Estado, com a Varig, dominada pelos
funcionários, e com muitas empresas familiares comandadas pelo grupo
majoritário. Aí, uma das partes da equação sempre controlará a empresa
pensando em seu próprio interesse, em detrimento das demais. A função do
administrador é justamente manter esses grupos heterogêneos nos seus devidos
lugares.
Um administrador de empresa é antes de tudo um hábil político, um líder, um
mediador e conciliador de conflitos. Ele sabe conciliar como ninguém as
forças difusas e conflitantes que garantem o sucesso de uma empresa. São
políticos que entendem de administração, ao contrário do que temos por aí.
Em vez de torcer para que o próximo Congresso tenha deputados que possam
eventualmente entender de administração, vamos eleger administradores que já
entendam de política. Precisamos eleger somente 257 administradores para
mudar este país, num ano em que se espera a maior renovação política da
história. Faltam só seis meses para tornarmos este país eficiente, justo e
bem administrado. Com crescimento, eficiência, redução de custos, auditoria
e sem grupos de interesse prejudicando todos os demais.
*Stephen Kanitz é administrador (www.kanitz.com.br)