A ciência da administração e a desconfiança de sua real aplicação

22/08/2015 16:10

Numa busca de compreender, explicar e discutir a importância e o reconhecimento da ciência da administração no contexto mercadológico e social, temos aqui um texto que talvez lhe faça refletir sobre o assunto.

 

Administrar é uma prática presente desde os primórdios até os dias atuais e necessariamente dos que virão, seja de forma organizada, eficiente ou não. Se perguntarmos a qualquer pessoa se ela acredita na necessidade da administração em um determinado ambiente onde a coletividade, a vida em sociedade e a interação humana se faz presente, certamente dirá que sim, mas, se indagarmos sobre ter de ser um gestor administrador à frente desse cenário, as respostas mudarão, acreditem. A finalidade deste texto é discutir a relevância da ciência da administração no real contexto de mercado, bem como, o impacto das respostas sociais ao curso e às expectativas de quem é da área.

Antes de prolongar a discussão, talvez estejas refletindo sobre um equívoco até grotesco do autor, como assim: gestor administrador? Um gestor não é um administrador e vice-versa? A resposta é díade, “sim” e “não”. Esta última eu assumo responsabilidade, pois acredito que ao mesmo tempo em que são coisas aparentemente iguais, elas têm uma essência diferente, isto é, qualquer indivíduo pode se tornar um gestor, mas para ter esse complemento de administrador, só quem se gradua para ser. Possivelmente há quem esteja pensando: “Sim, qual é a diferença?”. A resposta virá ao longo do texto.

De antemão, é importante reconhecer que pessoas que não necessariamente têm um curso superior também podem desenvolver através de suas experiências, habilidades ou outros fatores, a capacidade de realizar certas atividades que na teoria seriam designadas apenas aos profissionais formados. E, isto não se restringe à ciência administrativa. Podemos, inclusive, comparar a nossa área com outras, por exemplo: não precisar estudar pedagogia pra ensinar crianças, não precisar estudar moda pra ser consultor na área, não precisar ser cientista político para opinar sobre a mídia, entre outros. Neste sentido, pode vir à mente: e o resultado final do que será realizado por essas pessoas pode dar certo? Sim, pode. Porém o fim nem sempre é o mais importante, ou seja, o caminho percorrido até chegar a ele é o que deve receber uma atenção especial, pois eventualidades podem ocorrer a qualquer momento no âmbito de trabalho e é aí que está o "x da questão", são os profissionais com formação e conhecimentos consolidados que terão uma maior/melhor visão para identificá-las e tomar as decisões mais acertadas, que, possivelmente os atuantes em funções distintas desconheçam.

Pois bem, temos de fato um problema para os administradores e uma reflexão para os que não são. Com relação ao segundo grupo, podem simplesmente pensar que basta a pessoa ser “desenrolada” para dar conta do recado ou que realmente faz sentido a discussão. Em meio a isso, outra reflexão: então quer dizer que só quem está apto a gerir uma empresa é quem se forma em administração? Não. Mas, eles desenvolvem (é o que se espera) essa competência gerencial.

Reforço que, os parênteses colocados acima não foram por acaso, pois mesmo após se graduarem, infelizmente não são todos que estão qualificados para exercer tal função e os grandes responsáveis por isso são os mesmos, uma vez que durante o curso há uma grande diferença entre quem faz administração e quem estuda administração, aqui sim está o divisor de águas do profissional. Este, possivelmente, é um dos motivos da "má reputação" que o curso e estes profissionais têm no mercado, pois, muitos entram, muitos saem e pouquíssimos são diferenciados.

Já dizia Humberto Gessinger: “grandes negócios, pequenos empresários”, certamente enfatizando a nossa insatisfação com a incompetência administrativa no nosso país, seja no âmbito público ou privado, em que “o povo pena, mas não para” de amargar o que nos é oferecido. Contudo, espera-se uma mudança de comportamento não só da sociedade em si, mas principalmente de nós administradores. Podemos e temos motivos para acreditar no clichê “na prática a teoria é outra”, porém, não devemos nos prender a ele, pois se pensarmos unicamente assim, estudar será em vão e estaremos fechando nossa mente para questionamentos, respostas e reflexões que nos fariam enxergar o mundo de outro jeito.

No mais, gostaria de fazer duas breves considerações: (1) sobre o nosso Conselho de Administração: ”Não me conformo com o tamanho conformismo no que diz respeito à abrir portas e alavancar nossos direitos e deveres como profissionais, busquem mais”; (2) apesar de vivermos numa era literalmente hipercompetitiva, acredito ser válido fazer tal apelo, desta vez, aos próprios administradores: "Vamos nos unir, vamos nos valorizar, vamos nos cobrar, vamos contribuir para uma inserção de gestores administradores mais competentes e dignos no mercado".

Não me refiro a nos tornarmos facilitadores uns dos outros, mas sim sermos coerentes com o que está sendo demandado, por exemplo: se atuamos em cargos gerenciais e estamos precisando de pessoal para atividades gerenciais, que se realize uma seleção para pessoas condizentes com a função. É preciso foco, só assim no futuro poderemos ser profissionais mais valorizados e dar à sociedade um retorno mais digno. Por fim, é sabido que recursos não faltam, mas é preciso ter as pessoas certas para alocá-los da melhor forma possível.

Por Luiz da Costa